Brexit - a saída do Reino Unido é o fim da União Europeia?
By Paulo Cesar
- 5 minutes read - 1027 wordsPara os concurseiros de plantão que se deparam com ‘Atualidades’ como uma das modalidades das provas de concursos públicos, deve perceber que as mudanças sociais, políticas e econômicas estão cada vez mais intensas atualmente do que em relação a outros períodos. Como podemos avaliar e compreender o fato recente sobre o plebiscito no Reino Unido que determinou a saída da Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte do bloco europeu? É verdade que muitas informações nos afetam diariamente acerca de analisar as causas e consequências deste acontecimento, opiniões extremamente variáveis podem confundir a cabeça do leitor e do aluno que prestará concursos. No entanto, é possível pensar em algumas coisas que fazem com que pensemos o momento crítico que estamos vivendo.
Brexit - saída do Reino Unido da União Europeia
Em primeiro lugar, o embrião da União Europeia se dá a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, quando Alemanha e França uniram esforços para formalizar a CECA (Comunidade Econômica do Carvão e do Aço), no sentido de fortalecer os laços econômicos entre ambos os países na siderurgia e metalurgia. O segundo passo foi mais forte no instante em que França, Alemanha Ocidental, Países Baixos (Holanda, Bélgica e Luxemburgo) assinaram o Tratado de Roma em 1957, rumando em direção ao MCE (Mercado Comum Europeu), ampliando o número de países participantes do clube europeu, abrindo suas fronteiras no campo comercial e de deslocamento populacional. Ou seja, as pessoas de França, Alemanha, Itália, Suécia, Áustria e Finlândia não necessitavam mais de obter vistos para sair de um país membro para outro. No início, porém, os ingleses não desejavam entrar no bloco europeu, e com isso, Alemanha Ocidental e França deram as regras do jogo político e econômico, excluindo as chances dos britânicos de participarem de qualquer iniciativa geopolítica. No entanto, no início da década de 1970 a Inglaterra assinou a sua entrada no MCE, a contragosto dos franceses. Na década de 1980, Portugal e Espanha também foram signatários do bloco comum dos países europeus apenas para ceder mão de obra barata para as indústrias alemãs. Por este motivo, os estudantes portugueses passaram a ter aulas de alemão de maneira intensiva. Além disso, a Alemanha importou muita força de trabalho da Turquia, na década de 1980, e por isso, o governo turco deseja entrar na União Europeia que a partir de 1992 pelo Tratado de Maastricht referendou a união de vários países europeus, já com a Alemanha unificada (1990). Entretanto, o leitor deve estar indagando as razões que levaram os ingleses a querer se retirar do bloco, que era promissor do ponto de vista econômico, com a ampliação de um mercado cada vez mais forte com milhares de consumidores à disposição de empresas que poderiam atuar livremente sem pagar tarifas alfandegárias no transporte de uma nação para outra.
A questão se torna mais complexa dentro da EU, no momento em que entram países do leste europeu que fizeram parte da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), com culturas e estruturas econômicas diferentes da parte ocidental da Europa. Outro aspecto importante está ligado ao fato de que a Inglaterra não adotou o Euro, como moeda oficial, permanecendo com a Libra Esterlina, pois, assim, valorizaria suas exportações para a Europa Continental e para o mundo. De certa forma, podemos afirmar que para aderir ao bloco europeu há condições em obedecer a um excessivo número de regras e princípios que desestabilizaria as estruturas políticas dos países que desejavam entrar.
United Kingdom
Além disso, o nacionalismo, sentimento de que as regras estão sendo impostas de fora para dentro, ou haveria uma grande intromissão nos assuntos internos vindos de potências como Alemanha e a própria França. Foi desta forma, que o primeiro – ministro da Inglaterra, David Cameron, quando assumiu o mandato propôs um plebiscito, que decidiria o destino da Inglaterra na EU. Ninguém esperava, contudo, que o resultado de saída da comunidade econômica da Europa tivesse respaldo popular, embora, as pesquisas apontavam para um resultado extremamente apertado entre os que desejavam ficar e os que queriam sair. O mundo acordou na sexta, dia 24, perplexo, sendo que os grupos de extrema-direita ficaram felizes, postulando que a Inglaterra agora é dona do seu nariz, tomando decisões que grande parte da União Europeia não levaria em consideração. Então, a questão da xenofobia emerge, porque os que votaram pela saída da Inglaterra do bloco, defende a concepção de que o fluxo imigratório oriundo da África e principalmente da Síria deve ser estancado a qualquer custo para que estes imigrantes não tomem os empregos dos ingleses. Mas a questão intrínseca é aquela que trata do medo existente entre os ingleses com relação aos muçulmanos, que poderiam ameaçar com ataques símbolos do mundo ocidental dentro da Inglaterra.
Contudo, precisamos vislumbrar acerca das consequências desta saída. Em primeiro lugar, empresas e capitais estrangeiros, como os investimentos japoneses, não terão primazia para produzir dentro da Inglaterra e vender sua produção para o restante da Europa. O Japão sai perdendo. Por outro lado, nem as empresas inglesas terão facilidade em negociar ou renegociar contratos de milhões de dólares com outros países da União Europeia. Tais contratos serão renegociados com a perda de milhares de dólares com a perda de clientes e mercado consumidor.
Uma outra implicação do plebiscito reside na questão de que a desvalorização da libra será uma tônica, e os países emergentes ficariam distantes de capitais que incidiriam na América Latina. Sob o ponto de vista social e político, outros países, como França, Holanda e Suécia poderiam realizar plebiscitos semelhantes, deixando a zona do euro, caso os partidos de extrema-direita vençam o pleito eleitoral nos próximos anos. Todavia, estas consequências são apenas, por enquanto, previsões que talvez, não se sedimentem, mas, os governos atuais de França e Alemanha devem olhar com muito cuidado para que a fragmentação do bloco europeu seja evitada. Somente o tempo dirá.
Plebiscito – A palavra é originada do latim, que indica plebe, isto é, o povo possui poder de tomar decisões na produção de leis, por exemplo, e de inserir leis em assuntos polêmicos.
Paulo Cesar Gomes de Souza é professor de História, Filosofia e Política em faculdades e escolas públicas e particulares.